NotíciasVida e Saúde

Drunkorexia: a doença que mistura de transtorno alimentar com álcool

Drunkorexia é a restrição alimentar diante da possibilidade de ingestão de bebida alcoólica
© iStok / PhotoBylove

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando os pais de Renata, 57 (nome fictício), morreram, ela ficou deprimida e começou a comer compulsivamente. Passou dos 80 kg para os 130 kg e não saiu de casa por cinco anos, até que fez uma cirurgia bariátrica. Mas, após a cirurgia, ela passou a induzir o vômito porque achava que a comida não descia direito e trocou a comida pelo álcool. Renata então desenvolveu drunkorexia.

Os casos mais comuns do que pode se chamar de drunkorexia são de restrição alimentar diante da possibilidade de ingestão de bebida alcoólica (para reduzir a quantidade de calorias ingeridas ou para que o álcool faça efeito mais rápido), ingestão de bebidas alcoólicas seguida de indução de vômito e a tentativa de compensar, por meio de excesso de exercícios, o álcool consumido.

Há cinco anos, Renata faz acompanhamento psicológico e frequenta reuniões dos AA (Alcoólatras Anônimos). Também passou a liderar um grupo feminino do AA na zona norte da cidade de São Paulo.

Segundo a psicóloga que acompanha Renata, ela migrou da compulsão de comer para a de beber. A possibilidade de restrição do apetite proporcionada pelas bebidas acabou levando-a ao alcoolismo, e os vômitos provocados após refeições agravaram ainda mais o quadro. De repente, alguém que chegou a pesar 130 kg se viu com 47 kg.

A drunkorexia não é oficialmente uma doença e não consta no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em português). Entretanto, a co-ocorrência de dois transtornos previstos no manual levou especialistas a questionarem se não há particularidades suficientes nessa condição para que ela seja catalogada como um novo tipo de transtorno mental.

Segundo Maria Del Rosário de Alonso, médica nutróloga e diretora do Departamento de Transtornos do Comportamento Alimentar da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), o uso abusivo de álcool combinado com transtornos alimentares já não é mais visto como duas coisas separadas.

Um grupo de pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade do Sul da Flórida, nos EUA, sugeriu em junho de 2018 a catalogação do termo FAD (Food and Alcohol Disturbance), algo como distúrbio alimentar e alcoólico em português.

Já a diretora da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Maria de Fatima Viana de Vasconcellos, acredita que não há por que catalogar a drunkorexia como um novo transtorno. “Nós tratamos essas condições como alteração de comportamento. São comportamentos nocivos. É um problema de saúde, mas ainda não representa um quadro clínico, embora faça mal e precise ser tratado. O que caracteriza o transtorno alimentar é alteração da imagem corporal”, diz.

Um estudo realizado por pesquisadores de três universidades italianas em 2018 revela que 62,5% dos 403 participantes (entre 14 e 24 anos) adotavam métodos extremos de controle de peso diante da possibilidade de ingerir bebidas alcoólicas. Outros estudos, publicados nos EUA entre 2015 e 2017, apontam que pelo menos um terço dos estudantes universitários deixa de comer nos dias em que planejam beber.

É o caso da brasileira Luisa Cullinan, 26, que vive nos EUA e tinha bulimia. Em 2012, chegou a ser internada com guna (gengivite ulcerativa necrosante aguda), uma infecção das gengivas que também pode ocorrer em pessoas com diagnóstico de bulimia. Por causa da internação, a família soube que ela tinha o transtorno alimentar. “Pelo trauma da internação, nunca mais forcei o vômito.”

(NaoM Conteúdo por FOLHAPRESS)

Deixe um comentário