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Adnan Demachki – O Agronegócio e o transporte pela Hidrovia Capim

Nos primeiros cinco meses de 2022, pela primeira vez um produto não mineral foi um dos três produtos mais exportados pelo Estado do Pará.

Em primeiro lugar e bem isolado, vem o minério de ferro com U$ 5 bi, em segundo lugar a alumina com U$ 741 mi e a soja subiu do quarto para o terceiro lugar, com U$ 649 mi, um expressivo crescimento, pois no mesmo período de 2021 a soja representou U$ 359 mi das exportações paraenses.

Logística é fundamental para a produção. Nesse sentido em 2017, quando as tradings/transportadoras de grãos, buscavam do Estado o licenciamento para o transporte da produção do Mato Grosso pelo Rio Tapajós até o porto em Barcarena, condicionamos que elas também operassem as hidrovias do Capim e Tocantins, para que transportassem a produção do agronegócio paraense – e zeramos o ICMS do frete somente nestas duas hidrovias- para tornar mais atrativo esse transporte da produção agrícola do Pará.

Rio Capim – Imagem: Célia Santos

A hidrovia do Capim assim começou a ser operada, mesmo sem todas as obras estruturantes, somente no período de cheia do rio que coincide com a colheita da safra agrícola.

Pois bem, nesta safra que acabou de ser colhida, a notícia negativa é que as tradings/transportadoras em Barcarena estão priorizando o desembarque pela hidrovia do Tapajós/embarque nos navios no Porto da produção de soja/milho do Estado do Matogrosso que é infinitamente superior à produção do Estado do Pará, pois naturalmente pela escala deve ser mais atrativo economicamente e isso está inviabilizando o transporte da produção do nosso Estado pela hidrovia do capim, obrigando que nas últimas semanas os produtores contratassem transporte rodoviário para encaminhar milhares de toneladas de grãos produzidos na região de Paragominas pela rodovia Belém Brasilia até o Porto em Barcarena, como também parte da produção teve que ser escoada pelo Porto de Itaqui, em São Luiz/MA.

Milhares de cargas em caminhões tiveram que ingressar em rodovias já deterioradas pelo inverno, congestionando o tráfego de veículos inclusive no acesso à alça viária na entrada de Belém, causando riscos aos paraenses nas zonas urbanas das cidades em que as estradas cortam, emitindo mais CO2 para a atmosfera e encarecendo o custo da produção paraense.

Se as tradings privilegiam o embarque de soja do MT, nós como sociedade/governo devemos privilegiar a produção agrícola do nosso Estado.

E continuo dizendo o que disse lá atrás: “O Pará não pode ser somente um corredor de exportações do MT”, devemos sim contribuir com o transporte da produção brasileira, mas essa produção tem que contribuir com o desenvolvimento do nosso Estado. Esse enorme volume de soja do MT que passa pelo nosso território já deveria estar sendo verticalizado no Pará gerando emprego e renda, tal como algumas dessas empresas tem essa condicionante em suas licenças.

Acresce-se a isso que nos últimos anos esse transporte de soja produzida no MT também recebeu isenção do ICMS do frete para ser transportada pelos rios do nosso Estado. E agora, esse enorme volume de soja/milho do MT inviabiliza a hidrovia do Capim e força que nossos produtores exportem sua produção não pelo porto do nosso Estado, mas pelo Porto do Maranhão.

É necessário rever essa situação perversa para a produção paraense, também para não inviabilizar de vez a hidrovia do capim, como é necessário que nosso Estado, reveja essa isenção de ICMS de frete para a produção agrícola do MT que infelizmente vem afastando o embarque da produção paraense para o Estado do Maranhão.

Por Adnan Demachki

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